Polícia investiga áudio com suposta trama para cassar e incriminar prefeito de Itaguaí com drogas
15/07/2025
(Foto: Reprodução) Ouça áudio com suposta trama contra prefeito de Itaguaí, no RJ
A Polícia Civil do Rio investiga um áudio com uma suposta trama para cassar o mandato e incriminar o prefeito de Itaguaí, Rubem Vieira de Souza, o Doutor Rubão.
A gravação revela uma conversa com as vozes do atual presidente da Câmara Municipal de Itaguaí, Haroldo Rodrigues Jesus Neto, o Haroldinho, e o ex-secretário de Segurança Pública, Defesa Civil e Trânsito da cidade, Roberto Lúcio Guimarães, o Robertinho.
Segundo o delegado Rodrigo Bichara Moreira, titular da 50º DP (Itaguaí), os envolvidos devem ser chamados para prestar depoimento.
'Enfiar cocaína no carro dele'
No papo, que teria sido gravado no último dia 2 de julho, durante reunião entre os dois e outros aliados do presidente da Câmara, no gabinete de Robertinho, é apresentada uma sugestão para armar um flagrante com cocaína com o objetivo de incriminar o prefeito. Robertinho teria sugerido “plantar” a droga no carro de Rubão (ouça o áudio abaixo).
“Quando eu voltar para secretário, vou armar um bote pra ele. Enfiar cocaína no carro dele, porra. F*** a vida dele”, teria dito Robertinho.
O áudio foi divulgado pelo site Metrópoles e obtido pelo g1.
Ao g1, Haroldinho negou que tenha compactuado com qualquer plano ilegal para incriminar o prefeito. O vereador diz que não reconhece os áudios, que sugere que sejam uma "montagem" para descredibilizar a atuação do Legislativo.
Robertinho não respondeu às solicitações do g1.
Rubão falou que há uma tentativa de golpe e disse temer por sua segurança.
Veja a íntegra do que os três disseram no fim da reportagem.
Impasse em Itaguaí
Dr. Rubão
Reprodução/TV Globo
A cidade de Itaguaí vive um impasse político e jurídico sobre quem deve ocupar o cargo de prefeito.
Rubão venceu as eleições municipais de 2024, mas foi impedido de tomar posse pelo Tribunal Regional Eleitoral do Rio (TRE-RJ). A Justiça entendeu que a candidatura dele poderia configurar um terceiro mandato consecutivo — algo proibido pela legislação eleitoral.
O questionamento tem origem em 2020. Na época, como presidente da Câmara de Vereadores, Rubão assumiu interinamente a Prefeitura entre julho e dezembro, após o afastamento do então prefeito.
Depois disso, foi eleito nas eleições de 2020 e governou até 2024. Na visão do TRE, a tentativa de reeleição em 2024 seria, na prática, uma terceira gestão.
Com o impedimento de Rubão, quem assumiu o comando do Executivo municipal foi o presidente da Câmara, Haroldinho, de forma provisória.
Rubão recorreu ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O ministro André Mendonça rejeitou o recurso de forma individual. Em seguida, o caso foi levado ao plenário do TSE, mas ainda não houve julgamento.
Paralelamente, Rubão também acionou o Supremo Tribunal Federal (STF). No mês passado, o ministro Dias Toffoli concedeu uma decisão liminar (provisória), determinando que ele fosse diplomado e empossado prefeito de Itaguaí.
Mesmo assim, a Câmara de Vereadores resistiu em cumprir a ordem judicial. Diante da negativa, Toffoli reforçou a determinação e ordenou que a diplomação e posse de Rubão e seu vice fossem realizadas diretamente pela juíza eleitoral da cidade.
Haroldo Rodrigues (a direita) e Roberto Lúcio Guimarães, o Robertinho.
Reprodução redes sociais
A gravação
A conversa indica insatisfação de Haroldinho e Robertinho com a decisão da Justiça Eleitoral de devolver o cargo a Rubão.
O g1 apurou que a conversa teria sido gravada no dia 2 de julho, menos de 20 dias após a posse de Rubão por determinação judicial.
Um dia depois, no dia 3 de julho, a Câmara de Vereadores aprovou a instalação de uma Comissão Especial Processante (CEP) e de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) contra o prefeito Rubão por suspeita de irregularidades em contratos da prefeitura.
Dr. Rubão é prefeito eleito de Itaguaí
Reprodução/TV Globo
Na gravação, Haroldinho articula com Robertinho como deve ocorrer a votação na Câmara Municipal de Itaguaí e demonstra preocupação com a proximidade do julgamento no TSE, destacando a urgência de encerrar o caso antes da decisão da Corte.
“Se cai a chapa antes da votação, o processo perde o objeto. Tem que cassar ele antes de sair o resultado”, diz Haroldinho
Robertinho responde: “Aí tá morto duas vezes”.
“É, tem que matar ele”, afirma Haroldinho.
Ao g1, apesar de ter dito que não reconhecia as conversas, Haroldinho afirmou que a expressão "matar ele" não seria no sentido literal.
"Esse trecho, o Robertinho está falando de matar politicamente. Não existe matar. Ele está falando da cassação. Ai, é querer partir para ameaça. Não existe isso daí. Estão mudando o contexto das coisas", explicou Haroldinho.
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Denunciado por peculato
Envolvido na atual polêmica, Robertinho já foi denunciado por peculato em 2017, quando era vereador. Em 2017, ele foi denunciado pelo Ministério Público do Rio (MPRJ) por contratar uma funcionária fantasma na Câmara.
Segundo investigações, a suposta assessora do gabinete prestava, na verdade, serviços de empregada doméstica na residência do vereador. Ela recebeu um total de R$ 62 mil.
Na denúncia, o MPRJ pediu à Justiça que o então vereador fosse condenado por peculato e a devolução dos recursos desviados aos cofres públicos. Em junho de 2024, um acordo de não persecução penal foi firmado pelo ex-vereador, que admitiu o crime.
Com a negociação, o ex-vereador teve que devolver R$ 20 mil ao município e prestar serviços à comunidade durante 14 meses.
O que dizem os citados
Em nota, o prefeito de Itaguaí, Rubens Vieira, disse que “com temor por sua segurança vai tomar as medidas cabíveis na Justiça.”
O prefeito já entrou com uma reclamação no STF pedindo a anulação do processo que deu origem ao pedido de impeachment.
Segundo o comunicado, “Rubão esclarece que aguarda a decisão do TSE sobre a eleição e que, mesmo diante desse cenário bélico e de tentativa de golpe instaurado pela oposição, vai seguir atuando dentro do que regem a lei e o processo democrático.”
Ao g1, Haroldinho negou que tenha compactuado com qualquer plano ilegal para incriminar o prefeito e disse que as falas sobre a Comissão Processante já haviam sido feitas por ele na tribuna da Câmara.
“Reafirmo aqui que jamais compactuei e compactuarei com isso daí (incriminar o prefeito). Mas, está esse áudio aí. Eu não reconheço esses áudios”, declarou. Para ele, o conteúdo divulgado seria uma montagem para descredibilizar a atuação do Legislativo.
Apesar disso, o vereador admitiu que esteve com Robertinho e que discutiu sobre a tramitação da Comissão Especial Processante contra Rubão. Segundo ele, o momento é de instabilidade e a Câmara está apenas cumprindo seu papel fiscalizador.
"Eu já estive com o Robertinho no escritório dele. Eu tenho contato todo dia com ele e vereadores. Mas, esses tipo de conversa, cocaína, estão tentando me jogar para criar uma cortina de fumaça. (...) A cidade está vivendo um complexo político antes da decisão judicial”, disse.
"Na minha cabeça não houve essa conversa. Mas, realmente é a minha voz, falando da CPI, da Comissão Processante. Agora, o contexto ali é totalmente (...) eu nunca participei de conversa sobre plantação de drogas ilícitas."
Para finalizar, Haroldinho disse que não lembra de ter participado desse diálogo com Robertinho.
"Eu não acredito nesse diálogo, nunca participei disso. A voz pode ser minha, mas isso é uma montagem de áudio para tentar desacreditar e colocar uma matéria no jornal. Isso é cortina de fumaça, desconheço esse dialogo. Mas, falar o que falei, as coisas ditas por mim ali, sobre CPI, eu falo abertamente na tribunal da Câmara", resumiu.
Ao longo desta terça-feira (15), o g1 entrou em contato por telefone com Robertinho. Ao ser informado de que se tratava de uma reportagem, ele desligou a ligação e, desde então, não atendeu mais às tentativas de contato.
A equipe de reportagem voltou a tentar contato por mensagens de texto, com perguntas sobre o áudio e o suposto encontro com Haroldinho. Contudo, até a última atualização desta reportagem, o ex-vereador não retornou as mensagens.
O g1 também procurou o MPRJ para saber se o caso será alvo de investigação. Até a última atualização desta reportagem, não houve retorno.